Notícia postada originalmente em: http://exame.abril.com.br/pme/brasil-pode-ganhar-tres-unicornios-em-breve-diz-diretor-do-cubo/

São Paulo – Não é de hoje que as grandes empresas estão de olho nas startups e em seu potencial de criar soluções inovadoras para problemas antigos. Mas, no Brasil, esse movimento de aproximação ganhou um grande impulso há pouco menos de dois anos.

O espaço de coworking Cubo, voltado para fomentar a relação entre empreendimentos gigantes e nascentes, abriu as portas em setembro de 2015 a partir da união de dois nomes de peso: o banco Itaú e o fundo de investimentos Redpoint eventures. A demanda foi tanta que o centro anunciou sua mudança para uma sede quase quatro vezes maior.

De lá para cá, investidores-anjo e fundos de venture capital já aportaram 104 milhões de reais nas 52 startups residentes do Cubo Coworking Itaú.

O espaço também possui doze grandes empresas parceiras: Accenture, AES Brasil, Cisco, Focus, Foresee, Gerdau, Iugu, MasterCard, Microsoft, Rede, Saint Gobain e TIM. Ainda que elas não tenham aportado financeiramente nas startups, já se veem parcerias relevantes: a Colaboradores, uma das primeiras residentes, conheceu empresas como BRF, CPFL Renováveis, Raízen e Saint Gobain e conseguiu ser contratada para gerar economia para tais gigantes. Já a Todo Cartões, de cartões de presente, teve como primeiro grande cliente a rede Outback Brasil. Por fim, a Fhinck apresentou sua solução de inteligência artificial de aumento de produtividade para a Accenture, assinando um contrato no ano passado. 

O interesse de fundos e gigantes nas startups é justificado. Segundo Flavio Pripas, diretor do Cubo Coworking Itaú, o Brasil tem um mercado mais desenvolvido do que costumamos imaginar, e os unicórnios nacionais – empresas avaliadas em um bilhão de dólares – não demorarão para chegar.

“A minha conclusão é que o mercado brasileiro está relativamente maduro. Não é todo mundo que vencerá esse jogo, mas quem se posiciona bem consegue criar suas histórias”, explica em entrevista a EXAME.

Para ele, os empreendedores brasileiros têm um diferencial importante. “O empreendedor brasileiro enfrenta desafios que, em outros países, talvez fossem mais simples. Ele busca desenvolver seu negócio em um ambiente de acesso a capital menor e incerteza maior. Ou seja: é um diferencial de resiliência”, afirma.

Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista:

EXAME – Já se citou que há uma demanda reprimida de startups que querem entrar no Cubo. Qual sua análise sobre o mercado brasileiro de startups atualmente e para os próximos anos?

O que a gente está vendo é um crescimento no número de startups e com consistência. O mercado de startups funciona em ciclos de mercado. Tivemos um ciclo muito grande, de 2008 até 2011, de um monte de startups B2C [“business to consumer”, que vendem ao consumidor final] lançadas no mercado sem um modelo muito claro. Houve um processo de depuração e hoje vemos que o empreendedor chega ao mercado com muito mais consistência. 

Esse fenômeno não ocorre apenas no Brasil, mas também no resto do mundo. Por isso acho que estamos muito bem inseridos no cenário global e que temos sido bem sucedidos. Iniciativas como o Cubo, que ajudam na estratégia de go to market [“ida ao mercado”] e que ajudam a conseguir clientes, podem acelerar cada vez mais esse quadro. É o que vimos nos nossos últimos dois anos e que veremos muito mais daqui em diante.

Quando ocorre o maior gargalo para startups terem sucesso no Brasil: no primeiro ano de vida ou quando elas já atingem um estágio mais avançado, apresentando de 5 a 10 milhões de reais de faturamento?

Há vários gargalos na trajetória de uma startup. Nos primeiros 12 ou 18 meses de vida do negócio, o principal gargalo é o próprio empreendedor decidir quanto tempo ele ficará desenvolvendo seu produto sem ganhar dinheiro, sem ter um salário.

Depois desse período, a startup costuma atingir seu primeiro nível de faturamento e o gargalo passa a ser distribuição, como conseguir aumentar seu alcance – ter esse ambiente de negócios que acelerasse a escala do negócio era algo que faltava no Brasil há alguns anos.

Agora estamos na etapa em que a startup está desenvolvendo o produto, ganhando mercado e conquistando seu primeiro investimento, apresentando um faturamento que vai de um a dez milhões de reais. Há poucas que conseguem sair desses dez e irem até 20, 30, 40 ou 50 milhões de reais de faturamento.

As startups B2B [“business to business”, que vendem para outras empresas] que conseguem chegar até lá irão procurar aberturas nas grandes empresas e trabalharão com elas. O Cubo é um catalisador desse processo. Nas startups B2C, esse crescimento vem mais da captação de investimento, como vemos nos exemplos da 99do GetNinjas e do QuintoAndar.

A minha conclusão é que o mercado brasileiro está relativamente maduro. Não é todo mundo que vencerá esse jogo, mas quem se posiciona bem consegue criar suas histórias.

Então, o que falta para o Brasil ter um ou vários unicórnios? 

O que falta é dar tempo ao tempo. Ao longo deste ano, teremos os primeiros unicórnios brasileiros. Depois, chegaremos ao próximo nível, que é o de vermos saídas significativas [“exits”, ou venda de startups].

Se tudo isso ocorrer, a tendência é que o fenômeno dos unicórnios se torne cada vez mais recorrente. Isso porque o mercado é um organismo vivo, que irá aprender e se alimentar das histórias de crescimento. Tenho certeza de que a conversa que estamos tendo agora, em 2017, irá mudar daqui a alguns anos por conta desse amadurecimento do mercado.

Na sua opinião, qual startup brasileira está mais próxima de virar um novo unicórnio?

Pelo acompanhamento que eu venho fazendo de mercado, as startups que eu considero que podem se tornar unicórnios mais rápido são a 99, a Movile e o Nubank.