Notícia postada originalmente em: https://brasil.elpais.com/brasil/2017/09/11/internacional/1505128281_305251.html
Se não fosse por um rato de biblioteca da Universidade do Minho, não se saberia nada sobre a Yupido. Na realidade, só se sabe que é uma empresa com sede em Lisboa e possui capital social de 29 bilhões de euros (cerca de 108 bilhões de reais), ou 15% do PIB de Portugal; a empresa mais capitalizada do país.
O rato de biblioteca é um professor universitário que prefere não revelar seu nome. Realizava uma pesquisa sobre a produtividade das empresas com o banco de dados Amadeus, quando uma se destacou acima de todas, a Yupido, uma empresa com capital de 243 milhões de euros (907 milhões de reais) e nenhum empregado, isso sim extraordinário. O professor continuou pesquisando em bancos de dados públicos e redes sociais, e o que descobriu foi ainda mais espetacular. A Yupido tinha acabado de aumentar seu capital dos originais 243 milhões de euros para 29 bilhões. Mas o rato de biblioteca ainda não conseguiu saber o que a empresa faz, embora pareça que, por enquanto, não faça nada.
A Yupido existe há dois anos. Tem sede em uma torre de escritórios na capital portuguesa, onde ninguém atende ao telefone; também tem um site onde está exposto todo blá-blá-blá comum às empresas de tecnologia da informação: “A missão da Yupido é dar aos nossos clientes a infraestrutura e suporte que precisam operar com menos custos e maior eficiência”.
Há dois sócios principais, Cláudia Sofía Pereira (com 69% do capital) e Torcato Caridade da Silva (30%), além de Filipe Besugo (1%) e um comitê executivo de 10 pessoas presidido por um diretor-presidente e um diretor de vendas, embora, por enquanto, não tenha vendido nada. Também anuncia a contratação de pessoas “alegres e motivadas” para criar excelentes serviços “que serão utilizados por bilhões de pessoas ao redor do mundo”.
Tudo, exceto o que fazem, está claro nos registros oficiais. Há um balanço anual público, onde diz que tiveram um prejuízo de 21.000 euros (78.000 reais) no ano passado, dois auditores e o relatório de um reputado auditor externo, chave para avaliar esse aumento de capital, que não implicou dinheiro, e sim bens em espécie. Esse auditor escreveu que o que viu valia 29 bilhões de euros, embora, esclarece no documento, “o valor real possa ser maior”. O auditor não explica como chegou à conclusão do valor econômico desses bens em espécie.
Em declarações ao site português ECO, o auditor conta que os sócios lhe mostraram uma televisão e que ficou maravilhado com o que viu. Embora reconheça que não sabe nada sobre tecnologia, diz que lembrou de Steve Jobs, o gênio fundador da Apple. Segundo o porta-voz da empresa, no ano que vem, o mundo já começará a desfrutar de seus serviços milagrosos, mas, enquanto isso, a Procuradoria do Estado, a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários e o Colégio de Contadores iniciaram investigações.